quinta-feira, junho 09, 2005

Asfalto ameaça Sabará



Final de maio. São Paulo, notadamente sua capital, são arrasados pelo maior temporal no Estado desde 1943. Foram 117 pontos de alagamento, seis mortes e um prejuízo incalculável (clique aqui se quiser ler a notícia). Por que São Paulo inunda com tanta facilidade? Os especialistas são unânimes: a cidade é praticamente impermeável. Concreto e asfalto demais. Reverter esse quadro por lá é quase impossível. A maior cidade do Brasil afoga-se hoje no resultado da falta de planejamento. E Sabará vai para o mesmo caminho.

Guardadas as devidas proporções, Sabará caminha para resultado tão desastroso quanto o de cidades como São Paulo. O governo Wander Borges foi prodígio em espalhar, principalmente em bairros pobres, uma fina camada que não pode ser chamada de asfalto, dada sua péssima qualidade. Mas igualmente maléfica para o escoamento e manutenção do clima original de nossa cidade. Além do terrível resultado urbanístico, já que as obras rapidamente se deterioraram, deixando a pavimentação irregular, perigosa, horrível, anti-turística.

Esse o vício do populismo brasileiro, já que cidadãos de baixa renda iludem-se com a chegada do asfalto, que simboliza para eles, QUE ANDAM A PÉ, a chegada do progresso, a valorização de seu lote. Algo que vai contra as diretrizes preconizadas pelo urbanismo contemporâneo mundial.


Um dos acessos ao bairro Vila Esperança: as águas vão rolar...

O asfalto em Sabará chegou como não devia em inúmeros pontos da cidade. Na rua Mario Machado, por exemplo, a enxurrada hoje desce com fúria nunca antes vista nos tempos de calçamento de pedras. Resultado do “urbanismo” (entre aspas, lógico!) das Adelmolândias (ah!, se o Adelmo estivesse entre nós...).

Em dezenas de outras ruas tem acontecido o mesmo. E praticamente ninguém vê, já que a cidade se esconde atrás de sua geografia. A maioria, por exemplo, não tem idéia de como é hoje o Córrego da Ilha, ou o alto de Roça Grande. E quem paga o pato são os moradores da parte baixa da cidade e também o patrimônio histórico, que tem sua importância reconhecida no discurso da atual administração.

Sim! Porque a cada rua asfaltada no alto, os casarões centenários têm aumentado exponencialmente o volume de água que corre à sua frente. Ora, isso porque a pavimentação utilizada em Sabará é desprovida de projetos reais de escoamento, o que só minimizaria o mal futuro. Vá até a entrada do Cabral num dia de chuva. Mas vá de galochas.


Se a faina asfáltica continuar, Sabará vai esquentar e afundar. Não hoje, não amanhã. Certeza mesmo é a de que a água não baterá na porta das próximas gerações para entrar.

É o que deve acontecer daqui a pouco na Vila Esperança: a prefeitura já anunciou aos moradores que vai realizar “um antigo sonho da comunidade”.

Os políticos justificam a decisão de asfaltar como sendo a realização de um velho desejo de determinada comunidade. Papo furado. Sua obrigação não é ludibriar quem já tem tão pouco, mas orientar, instruir. E realizar sonhos também, mas só os que não inviabilizem a existência da cidade para as próximas gerações. Como? Ora, um exemplo: aplicando a verba disponível na urbanização verdadeira desses bairros, que raramente têm passeios, praças, bancos, lixeiras e áreas de convívio. Como na Vila Esperança (triste nome...).

Decisões sobre asfaltamento em cidades com a geografia de Sabará, cujas populações ribeirinhas já sofrem todos os anos com a ameaça das águas, devem ser tomadas com responsabilidade e visão de longo prazo. Na última eleição, moradores de ruas como a Pereira Vieira estavam desesperados. Queriam saber o que os eleitos fariam contra a ameaça anual da enchente em suas vidas. Nada de concreto feito até o momento.

Continuar asfaltando, e não calçando, a parte alta da cidade, é gesto não só desnecessário, mas irresponsável. O momento é crucial. Que o governo tenha a firmeza necessária para se deixar guiar pela sensatez, não pelas urnas.

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Concorda com essa opinião? Então clique aqui e faça a prefeitura ouví-lo!

Envie mensagem ao prefeito, sr. Sérgio Freitas (semad@sabara.mg.gov.br)

Ao secretário de obras, sr. Ubirajara Rosa da Silva e seu adjunto, sr. Anderson Silva Teixeira (semop@sabara.mg.gov.br)

A secretária de meio ambiente, sra. Carmem Tereza Lopes Alves e seu adjunto, sr. Richardson Oliveira Silva (semma@sabara.mg.gov.br)

Ao secretário de turismo, sr. Afrânio Morais Pinto (turismo@sabara.mg.gov.br)

Ao secretário de patrimônio e cultura, sr. Francisco de Assis Pereira Mayrink (cultura@sabara.mg.gov.br)

A secretária de saúde (claro! enchentes são um problema desta alçada também), sra. Sônia Maria Vieira Serufo e seu assessor, Wady Fadul Júnior (semusa@sabara.mg.gov.br).

Se preferir, fale com eles por telefone.
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Imprima e mostre para quem não tem acesso à internet.

Depois que a cidade afundar, não adianta reclamar.

Se você é especialista no tema (engenheiro, urbanista, etc.), brinde-nos com sua sabedoria enviando uma opinião técnica sobre nosso futuro para sabarando@gmail.com.

Mas se você não concorda com o artigo, conte-nos porque. Só não fique aí parado, oras!

Um comentário:

Anônimo disse...

HAHAHAHAHA...
Alguns anos atrás o "chik" era asfaltar, era a "mudernidade". Agora temos que "rancar" tudo senão afunda? HAHAHAHAHAHAHA