quarta-feira, agosto 17, 2011

"Sou sabarense, tenho um amigo corrupto."


Em São Paulo, há alguns anos, uma rádio lançou a campanha "Já fui assaltado". Os adesivos rapidamente se espalharam por carros que circulavam em toda a cidade. A simples campanha causou impacto ao, pela primeira vez, dar cara às milhares de pessoas que já tinham sido vítimas da violência na cidade. E mostrou de maneira criativa o quão insuportável e perniciosa era a situação.


Em Sabará, se a campanha do adesivo "Sou sabarense, tenho um amigo corrupto" for lançada, o efeito será o mesmo. Rapidamente os carros que circulam pela cidade e janelas de casas mostrarão o adesivo.


Afinal, em Sabará, nunca se está há menos de 30 metros de um corrupto.


Não, não o corrupto clássico, ou seja, o político populista-paternalista engravatado de Brasília. Mas o corrupto do novo Brasil. O cara que não aceita que quem trabalha no país hoje progride. E insiste em viver na época em que o jeitinho, a vantagem através de padrinhos e a malandragem imperavam. O cara que quer vencer na maciota, sem suor.


Pare e pense nos seus familiares e conhecidos. De todas as idades: dos recém-formados aos iletrados, dos descolados e antenados aos caretas. Das novas e velhas caras. Tem sempre alguém em Sabará muito próximo a você se beneficiando de um empreguinho arranjado na prefeitura sem concurso público. De uma parceria questionável em algum projeto. Alguém levando vantagem na área de transportes, engenharia, arquitetura e até mesmo social de forma dúbia. Alguém cuja empresa se beneficia dos laços pessoais com o grupo que está no poder para lucrar na iniciativa privada. 


E o pior: tudo é aceito como se isso fosse o normal, o desejável até!  É o paternalismo às avessas, sem pressão política, mas por livre e espontânea safadeza.




Você sabe dar nome aos bois e eles não usam gravata




São tantas as histórias do tipo que resolvi parar de contar antes de ficar deprimido. Sou sabarense, tenho um amigo corrupto. E é essa corrupção disfarçada de normalidade, a corrupção cotidiana, e não a corrupção de Brasília, das capas das Vejas, que assusta tanto quanto ou mais que a corrupção clássica. E precisa ser combatida. O Brasil do sabarense não é em Brasília, é aqui. E a corrupção do seu amigo arrebenta mais com o seu Brasil do que os alvos fáceis de Brasília.

2 comentários:

Bom Samaritano disse...

Eu não tenho um amigo corrupto... Como sei que o são, não os considero amigos. Mas conhecidos, tenho vários... Infelizmente Sabará está contaminada, doente. E o pior, é que generalizamos que não gostamos de política, como se ela fosse ruim. Na verdade não gostamos é da politicagem, da safadeza, dos que usam da máquina pública para satisfazer necessidades pessoais e esquecem (ou nunca souberam) do seu verdadeiro papel ali. A política em seu sentido pleno é uma arte se devidamente executada, mas por fim, tomamos nojo e não queremos envolvimento com quem governa e faz toda essa distorção do seu real significado.

Immanuel disse...

Esse tipo de corrupção, que assola todo o país e é mais pujante em Sabará, é o que suga todo o vigor evolutivo do povo e do Brasil. Esse tipo de crime é tão banal, que se alguém não concorda e não participa de tal contexto, esta pessoa é tida como louca e até imbecil. Porém, imbecís são aqueles que para disputar uma teta da cadela pública, se sujeitam a esse câncer social e se defendem afirmando que é o certo a se fazer.